Califórnia ameaçada

Depois de uma longa luta pela defesa das sequoias centenárias na Califórnia, o estado enfrenta um novo desafio: o boom do multibilionário mercado da cannabis que destrói o ecossistema da floresta e mata os mais raros animais selvagens da região. Em uma era de mudança climática veloz, a “corrida verde” agora é para o cultivo de marijuana realmente sustentável. Clareiras com grandes estufas para cultivo da planta em escala industrial mostram uma floresta devastada.

“A maior ameaça ao nosso ambiente tem sido a cannabis não regulamentada”, diz Natalynne DeLapp, diretora do Centro de Informações de Proteção Ambiental.” O crescimento exponencial na produção em Humboldt County nos últimos 20 anos já deixou efeitos ambientais preocupantes. Fazendeiros cortam árvores para construir estufas e estradas, desviam riachos para irrigar plantações e ameaçam rios com sedimentos, fertilizantes e pesticidas onde salmões prateado e chinook desovam. Mesmo se o salmão desova, a sobrevivência não é grande”, diz. Resíduos de geradores a diesel, veneno de rato e químicos tóxicos usados por alguns produtores para proteger suas plantas matam animais raros como a coruja-pintada do norte e 2 espécies de martas (um mamífero muito caçado para utilizar os pelos em pinceis).

Há 7 anos, Mourad Gabriel, especializado em vida selvagem, pesquisou um grupo de Radio-Collared Fisher – sem tradução em português, mas é um animal da família das doninhas, “primo” das martas, um pouco maior que um gato e com carinha de urso (será que deu para imaginar?). Existem menos de 500 na Califórnia. O estudo revelou que 79% – dos 58 animais analisados -, foram expostos a raticidas, 4 morreram e uma fêmea amamentando passou o veneno para sua prole. Mas o veneno não é “sem querer”. Latas de atum com raticidas foram espalhadas para proteger as plantações. Ursos, raposas e aves encontrados perto das fazendas testaram positivo para os venenos.

A ameaça também entra em casa. Ao trazer codornas para sua família, ocorreu a um morador da região guardar um pedaço da carne para análise. Os resultados mostraram a carne contaminada com raticida letal. Um sinal preocupante de que os venenos se espalham pela cadeia alimentar, ameaçando, inclusive, povos indígenas locais quase 100 % dependentes da caça.

Natalynne DeLapp lidera uma campanha para regularizar o mercado e recebe ajuda de aliados improváveis: a indústria madeireira e um grupo de produtores de cannabis para criar uma cultura orgânica, realmente verde e sustentável. Armazenar água coletada da chuva, restaurar bacias hidrográficas danificadas e usar ratoeiras presas às árvores são alguns dos planos já colocados em prática. O grupo tenta obrigar a seguir normas para utilizar a terra, água, pesticidas e energia, bem como proibir a conversão de terras de madeira para fazendas de cannabis.

Quase 20 anos após a legalização da maconha medicinal no estado, Jerry Brown, governador da Califórnia, sancionou uma lei em outubro de 2015 para o segmento. Os produtores têm até dezembro para se registrar e obter licenças que regem a utilização de água, energia e raticidas.

Pelo menos tem gente tentando fazer a coisa certa. Ainda há esperança!

Por Renata Maranhão

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